Clô
Â
Baseado no romance de Sérgio Jockymann, Dias e Noites é o que poderÃamos, sem medo, denominar como melodrama. Antes de uma caracterização negativa, o gênero era escolha primeira nos idos do final do século XVIII e foi permeando as obras (principalmente teatrais) ao longo do século XIX. A trajetória do gênero pede sempre por uma crescente evolução – da infelicidade à felicidade.
Os diálogos pomposos, as cenas arrebatadoras e a música que cai na hora certa (afim de exaltar a tensão) foram, com o tempo, transformando-se em convenções (de tanto repetidas). Essas convenções, em exagero, são hoje motivo de riso. Hoje, um melodrama, principalmente se levado a sério…é visto como algo de mau gosto.
Se o autor de uma obra dramática não atentar para a distribuição em equilÃbrio dos elementos do enredo, ele pode cair para um terreno que, de inÃcio, nunca foi seu objetivo.
Por isso, não é fácil conter o riso frente a história de Clotilde (Naura Schneider), uma mulher que sofre tanto nas mãos dos homens mas, ao mesmo tempo, não consegue viver sem eles. A primeira cena diz tudo: Clotilde, ainda adolescente, tira a roupa em público para manter seu ponto de vista, manter sua visão de mundo. Essa idéia caminhará por todo filme. Ela fará de tudo (mesmo que caia em sua degradação moral) para manter-se em pé, na defesa de seus anseios.
Mesmo baseado em fatos reais, a história ganha força à la Danielle Steel e o que vemos, ao final, é um conjunto de lugares-comuns estranhamente alinhados.
Eu havia gostado tanto de Netto perde sua Alma (exibido na 25ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – direção também de Beto Souza, mas com Tabajara Ruas) que pensei encontrar, em Dias e Noites, uma boa pedida.
Se o filme não estivesse tão engessado em padrões e se permitisse ser mais livre…o gênero zombando de suas próprias especificidades…talvez a obra se transformasse em uma surpresa agradável. O que, certamente, não é.
Â
Â
outubro 24th, 2008 at 1:27 am
Em primeiro lugar, parabés pelo blog! É excelente!
Também sou cinéfila e adorei o lugar…
Achava que o filme era melhor, mas parece que me enganei.
Um abraço
outubro 24th, 2008 at 12:03 pm
@cecilia,
Valeu, muito obrigado pela visita! Não assisti a esse filme, foi a Polyana, mas se já são duas concordando, deve ser isso mesmo!