Curtas do Bafici (1)
Manhã tranqüila
Para a imprensa são realizadas nove sessões diárias em três salas simultâneas com filmes começando à s 10h, 12h e 14h. Neste perÃodo não há filas e nem é necessário retirar ingressos com antecedência. Basta estar atento à programação, chegar na hora e apresentar a credencial.
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Sobras para noite
A tranquilidade é só matutina. Para as sessões da tarde ou da noite não adianta dar “carteiradaâ€, é preciso retirar até dois ingressos com antecedência para filmes em sessões abertas (leia-se, sessões disputadas com o público e com direito à filas). O difÃcil é conseguir encontrar ingresso disponÃvel especificamente para um filme. O jeito é chegar na sala de imprensa, pedir o que tem sobrando e contar com a sorte.
Cinema de vanguarda na capital do tango
A partir de agora, o CinemaLido rompe fronteiras e faz a sua primeira cobertura internacional.
Estou em Buenos Aires, Argentina, para acompanhar o Bafici (Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independente) que, criado e mantido pela prefeitura, está em sua 11ª Edição e vai de 25 de março a 05 de abril.
“Buenos Aires respira cine y el público porteño, célebre por su cinefilia y fidelidad, acompaña cada edición en creciente número”. (www.bafici.gov.ar)
Este festival, de repercussão internacional, está focado fortemente no cinema independente e também de vanguarda, com isso, é difÃcil encontrar grandes nomes da cinematografia atual, porém, os diretores com filmes selecionados provavelmente serão destaques daqui alguns anos, que é o que tem acontecido desde a primeira edição do Bafici, em 1999. Talvez o festival possa ser considerado o Sundance da América do Sul.
Em um comparativo para entender o tamanho do Bafici, se fosse pelos números do festival, ele se equiparia à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: aqui estão programados 417 filmes para 1.069 sessões em 20 cinemas; enquanto que a última edição da Mostra contou com 454 filmes para 1.200 sessões em 22 salas. O número total de público também se assemelha, são 200.000 cinéfilos para cada um dos festivais.
Importante destacar ainda, que o Bafici tem apenas 1/3 da idade da Mostra.
O festival é composto de retrospectivas, panoramas e, claro, competições: cinema internacional, cinema argentino, cinema do futuro (dedicado às novas linguagens) e curtas-metragens.
A seleção dos filmes, segundo os organizadores, privilegia as premieres pois é assim que o Bafici quer se destacar entre os festivais do mundo, como o berço de estreias de filmes independentes e de vanguarda.
Entre os destaques do festival porteño deste ano estão o Shirin (Irã, 2008) de Abbas Kiarostami, apresentado no 65º Festival de Veneza; 35 Shots of Rum da diretora francesa Claire Denis (Chocolate, Nennete et Boni, Beau Travail); Examined Life (Canadá, 2008) de Astra Taylor; o segundo longa-metragem do chileno Sebastián Silva La Nana (Chile-Mexico, 2009) primeiro filme chileno ganhador de um prêmio no último Festival de Sundance; o filme Une Autre Homme (2008) do diretor suÃço Lionel Bailer; Ponyo on the Cliff by the Sea (Japão, 2008) do mestre da animação Hayao Miyasaki (A Viagem de Chihiro, A Princesa Mononoke) e 16 Memórias (Colombia, 2008) de Camilo Botero Jaramillo.
Quanto a nós, brasileños, estamos sendo representados por seis filmes, sendo que dois deles vem sendo apresentados com destaque: Filmefobia (2008) de Kiko Goifman em competição pelo “Cine Del Futuro†e Encarnação do Demônio (2008) de Zé do Caixão no “Panorama Noturnoâ€. Completam a lista tupiniquim Acácio (2008) da mineira MarÃlia Rocha, Loki:Arnaldo Batista (2008) do carioca Paulo Henrique Fontenelle e, vindos do Recife, KFZ-1348 (2008) de Gabriel Mascaro e Um Lugar ao Sol de Marcelo Pedroso (2009).
De inÃcio, o que chama atenção é a grande exposição que o Bafici tem. Por se organizado pela prefeitura, cartazes do festival estão por todos os cantos da cidade. Pelo que se percebe, ao longo destas duas semanas, Buenos Aires parece mesmo respirar cinema. E isso se confirma com o grande número de sessões que já têm ingressos esgotados antes mesmo do festival começar.
Ao longo destas duas semanas pretendo viver mais uma maratona para narrar aqui curiosidades sobre o Bafici e, claro, comentar alguns dos filmes que serão exibidos.
¡hasta luego!
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Extras:
• Galeria de fotos do festival
• Site oficial
Estreia Sexta!
De vez em quando lembro-me da senha deste blog e venho aqui atualizá-lo. Desta vez foi porque descobri um serviço simples e genial. Como diz o tÃtulo deste post, chama-se Estreia Sexta, um site que tem a simples existência para nos informar dos filmes que serão lançados nos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira.
Interessante, não? Melhor ainda, cada um dos filmes exibe links para trailers no YouTube, ficha técnica no Imdb, o artigo correspondente na Wikipédia, poster do filme além de trailers no site da Apple. Facilita a vida de todo mundo.
Escrevi um outro post no Startupi, em outro blog que mantenho, sobre a historinha por trás do surgimento deste serviço. É interessante, vale ler. Adicionalmente, agradeço o Marco Gomes por ter me avisado deste serviço interessantÃssimo!
Uma experiência sinestésica
Na Mostra de cinema em geral você tem experiências cinematográficas diferentes. Filmes cult, filmes de diretores estreantes, filmes com conceitos malucos. Mas a experiência mais interessante que se pode ter é ir a uma das sessões no vão livre do MASP.
Esta é a segunda vez que vou até o MASP assistir a uma obra da sétima arte. O primeiro deles foi o grandioso 2001, Uma odisséia no espaço do Kubrick. Sim, posso dizer que vi este filme na telona! Esse filme foi exibido no vão livre na 30a. Mostra. Desta vez o escolhido foi o Banheiro do Papa, um dos vencedores da Mostra anterior, e que escreverei em breve aqui.
Sentar-se em uma das cadeiras de plástico do MASP em plena hora do rush em São Paulo é no mÃnimo interessante. Ao som do filme (trilha, efeitos) mistura-se o ruÃdo de fundo de umas das avenidas mais conhecidas do Brasil.
Ônibus passam a todo momento, sirenes e suas luzes surgem aleatoriamente, sombras dos pedestres são projetadas. E desta vez choveu forte no inÃcio da sessão, ou seja, um fina névoa caiu sobre nós, espectadores, enquanto curtÃamos com todos os sentidos esse filme que se passa no Uruguai.
Muito mais divertido que o Vivo Open Air que, por ser no Jóquei Clube, não tem todo esse trânsito a 10 metros de distância, mas dava pra ver os aviões que pousavam ou decolavam de Congonhas passando no alto da tela, hehe! Aliás, cadê o Vivo Open Air? Faz tempo que não tem.
Veja também:
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Baseado no romance de Sérgio Jockymann, Dias e Noites é o que poderÃamos, sem medo, denominar como melodrama. Antes de uma caracterização negativa, o gênero era escolha primeira nos idos do final do século XVIII e foi permeando as obras (principalmente teatrais) ao longo do século XIX. A trajetória do gênero pede sempre por uma crescente evolução – da infelicidade à felicidade.
Os diálogos pomposos, as cenas arrebatadoras e a música que cai na hora certa (afim de exaltar a tensão) foram, com o tempo, transformando-se em convenções (de tanto repetidas). Essas convenções, em exagero, são hoje motivo de riso. Hoje, um melodrama, principalmente se levado a sério…é visto como algo de mau gosto.
Se o autor de uma obra dramática não atentar para a distribuição em equilÃbrio dos elementos do enredo, ele pode cair para um terreno que, de inÃcio, nunca foi seu objetivo.
Por isso, não é fácil conter o riso frente a história de Clotilde (Naura Schneider), uma mulher que sofre tanto nas mãos dos homens mas, ao mesmo tempo, não consegue viver sem eles. A primeira cena diz tudo: Clotilde, ainda adolescente, tira a roupa em público para manter seu ponto de vista, manter sua visão de mundo. Essa idéia caminhará por todo filme. Ela fará de tudo (mesmo que caia em sua degradação moral) para manter-se em pé, na defesa de seus anseios.
Mesmo baseado em fatos reais, a história ganha força à la Danielle Steel e o que vemos, ao final, é um conjunto de lugares-comuns estranhamente alinhados.
Eu havia gostado tanto de Netto perde sua Alma (exibido na 25ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – direção também de Beto Souza, mas com Tabajara Ruas) que pensei encontrar, em Dias e Noites, uma boa pedida.
Se o filme não estivesse tão engessado em padrões e se permitisse ser mais livre…o gênero zombando de suas próprias especificidades…talvez a obra se transformasse em uma surpresa agradável. O que, certamente, não é.
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Rebobine, por favor!
No Domingo descobri que o último filme do ótimo diretor Michel Gondry seria exibido na Mostra dali algumas horas. Não deu outra, fui correndo em direção ao cinema e, sorte, tinha ingressos disponÃveis para a sessão.
Rebobine, por favor (Be Kind Rewind, EUA, 2008, 102 minutos) se passa em uma vÃdeo locadora de VHS, ou seja, uma indústria decadente. Tem a seu favor um acervo variado, mas perde a concorrência para aquela grande loja da esquina que aluga DVDs. Aliás, esse é outro negócio em decadência… Mas… vamos lá!
A tal da locadora sofre um incidente, todas as fitas VHS magnéticas são apagadas… e pra satisfazer os clientes os personagens de Jack Black (Jerry) e Mos Def (Mike) resolvem refilmar “clássicos” como Ghostbuster e A Hora do Rush. Hilário!
Pirataria?!
O filme tem tudo a ver com a atual situação da indústria de filmes e música. Há crÃticas pesadas à pecha de criminoso que a RIAA dá a seus consumidores fiés, aqueles que adoram um filme e pagariam caro para vê-lo. Na verdade a RIAA, a tal da associação das indústrias de entretenimento, não é citada nominalmente, mas é representada por advogados truculentos.
O tal do conteúdo gerado pelo usuário ganha força no filme, com suas obras “suecadas”, ou seja, feitas em casa, refilmagens de obras cinematográficas originais. Aqui existe uma piada (eu acho que é piada) que só um cara gosta de tecnologia,como eu, poderia perceber. Os filmes são “suecados” pois, explicam, foram feitos na Suécia. Isso nada mais é do que uma crÃtica a indústria cinematográfica e uma referência clara ao The Pirate Bay, aquele buscador de torrents, ou seja, download “cinza” de filmes.
O filme é ótimo, com boas piadas e referências para bons apreciadores da sétima arte. Claro, as referências não são pra filmes cult e sim para filmes conhecidos do grande público. Pra todo mundo que gosta de cinema, mÃdias sociais, cauda longa e UGC, vale à pena.
Vale conferir:
Próximas sessões:
- 23/10/2008, 14h30, quinta-feira, Cinemateca sala Petrobras
- 24/10/2008, 23h00, sexta-feira, Espaço Unibanco Augusta 3